quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Diário Virtual do Neelic

No próximo  domingo vai ter muita gente disputando as vagas no vestibular da UFRGS. Estava revisando os conteúdos de História e meu livro abriu na página de um dos meus poetas preferidos: Manuel Bandeira, com um trecho do livro "Libertinagem", seu quarto trabalho publicado e um dos mais importantes. É uma sucessão de poemas espantosos, cheios de novidades, humor, erotismo que produz uma intensidade de sentimentos imenso.
Logo me lembrei de uma de nossas peças, Dramen des Alltags, em que o trecho é lindamente declamado pelos atores!
Fica aqui uma dica para o vestiba da UFRGS e ainda, uma recordação linda de Dramen des Alltags!


Poética


"Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente 
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o 
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas!

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
 Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.





Suelen Gotardo

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Felíces Fiestas!

Tem uma coisa que eu vi...

Tem algumas coisas que eu vi entre domingo e hoje na TV, muito bacaninhas:

- Um homem chegando na rodoviária de SP, vindo do Nordeste, com uma jaca na mala. Perguntado sobre o por quê de razer a jaca na mala, se há jaca para vender em SP, ele responde: "Ela já vem mais do pé, tiradinha com calma." (ADOREI!)

- Um índio brasileiro sendo entrevistado sobre o sistema policial indígena que criaram, totalmente independente da polícia brasileira, responde: "Nosso povo é igual ao povo civlizado. Tem revólvi, tem pistola..." (MEDO!)

- Numa reportagem sobre uma briga entre duas mulheres no metrô de SP (uma bateu na outro porque a outra, sendo jovem e saudável, sentou no lugar preferencial para idosos ou deficientes e não queria levantar, com o metrô lotado de pessoas idosas e deficientes em pé), a que bateu disse: "Apanhou porque é folgada!" (ADOREI!), e uma psicóloga entrevistada, justificou: "Um dos motivos (falando sobre o nível de stress que aumenta em 70% no fim-de-ano) é que as pessoas têm que conviver com pessoas que elas muitas vezes odeiam e têm que simular." (ADOREI!). O melhor da história era a psicóloga falando seríssima essa frase, e a reportagem finalizar contando que a mulher que bateu TAMBÉM estava no lugar errado, porque aquele vagão todo era preferencial, ou seja: nenhuma das duas deveria ter nem entrado no vagão.

- Uma curiosidade: o Brasil é o campeão mundial de raios.

Aqui termino.

Desirée Pessoa.

Olho nu e ouvidos para quem tem

No Roda Viva de ontem (27.12.2010), quem estava sendo entrevistada era a Barbara Heliodora.

Registro aqui, então, alguns momentos que me chamaram à atenção:

Ela contando sobre a experiência dela de assistir a muitas peças de teatro e tal, num dado momento falou a seguinte frase sobre as encenações: "Há duas categorias: as plausíveis e as loucas." Ela é um tanto radical, a gente sabe bem. Ao mesmo tempo penso que esta é a função da crítica especializada. Não sei se poderia/deveria ser mais amena. Não sei mesmo. Há vantagens e desvantagens em ambas as posturas. Ela mesma diz que determinados tipos de encenação (de baixa qualidade) afugentam o público que vai a teatro pela primeira vez. Mas creio que uma crítica por demais acirrada também o afugenta. Não tenho resposta, nem pretendo neste momento. Só estou deixando pensamentos saírem. 
Foi constrangedor, sob meu ponto de vista, um momento que a Gabi perguntou se ela "fez fortuna" escrevendo críticas, querendo saber se a Barbara escrevia ainda por necessidade ou por prazer. A Barbara deu uma boa risada na cara da Gabi, e perguntou, com cara de quem diz "dãã": "Fortuna?". A palavra passou à outra pessoa e a Gabi retomou a palavra e insistiu na pergunta, reformulando-a. Ficou beeeem claro que a Barbara ainda critica porque precisa. "É o meu emprego", disse.
Um último destaque para o momento em que Barbara foi confrontada no sentido de que dizem que ela não sabe criticar teatro contemporâneo. Ela fez uma introdução de resposta mais elegante, mas concluiu: "Muita coisa que é tida como vanguarda na verdade é incompetência".

Sem mais por enquanto,

Desirée Pessoa.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Mural das Pérolas

O ano 2010  foi palco de várias pérolas dos membros do Grupo Neelic. Várias viraram bordões e foram usadas no dia-a-dia, em meio a produção e criação dos espetáculos. Segue aqui algumas que foram muito faladas.
Ps: Quem lembrar de mais alguma comenta aqui!

Aí tu me complica! ( by bilhetera Suelen)

Nada de boca mole! ( by ator Bruno Fernandes)

Dignidade... ( by ator Thiago Oliveira)

Eu, fulano de tal, penso... (by diretora Desirée)

Novas seções do nosso blog

Olá!

É com muito prazer que inauguramos diversas novas seções aqui do nosso blog. A proposta é que seja variado, interativo e divertido. Os conteúdos são relacionados com criação artística, de forma direta ou indireta, mas também com o simples fato de estarmos vivos e atentos ao mundo.

Sinta-se à vontade para comentar, mandar conteúdos ou se relacionar como quiser com este novo espaço!

As seções são:

- Tem uma coisa que eu vi...: seção para postarmos fatos e imagens vistas no dia-a-dia, e que, de alguma forma, chamaram a nossa atenção;

- Diário virtual do Neelic: nesta seção postaremos coisas que envolvem o nosso dia-a-dia de criadores. Não serão apenas coisas relevantes, mas também as pequenas coisas, as mais cotidianas, para que você acompanhe nossos passos;

- Olho nu e ouvidos para quem tem: seção onde postaremos pensamentos, reflexões e ideias com um viés mais crítico sobre eventos, fenômenos, falas e ações públicas do pessoal da política, da mídia, da arte e de outros segmentos que são parte (mesmo que não concretamente) da vida da gente;
 
- Mural das pérolas: nesta seção postaremos frases e expressões ditas em algum momento pelos criadores do Neelic, que, de alguma forma, por alguma razão, soaram muito engraçadas (e bizarras?!);

- Como já dizia a bisavó de todo mundo...: seção para postarmos aquelas palavras muito estranhas que os mais antigos falam, e que muitas vezes, a gente não sabe nem o que significam, e tem que se esforçar pra conseguir se comunicar (tipo "frigidaire" em lugar de geladeira e "chulhar" querendo dizer torcer).

Só para lembrar: há outras duas seções que já inauguramos, semana passada: Diversidades do Espetáculo Primeiro Amor e Textos interessantes sobre artes cênicas, que vamos continuar alimentando.

Poste seus comentários, mande conteúdos, participe! Contamos com você para que este espaço seja o mais bacana possível!

Um abraço do pessoal do Neelic.


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Diversidades do Espetáculo Primeiro Amor

A partir de hoje, vamos postar aqui diversos elementos da criação e da temporada do espetáculo Primeiro Amor, que retorna a cartaz em Porto Alegre em 2011.

Serão publicados aqui tanto fragmentos do processo, sob o ponto de vista dos criadores, quanto dos técnicos e apoiadores envolvidos, mas também materiais recolhidos como registro durante a promeira temporada, ocorrida na sala 504 da Usina do Gasômetro - espaço do Neelic no projeto Usina das Artes.

Esperamos que possam acompanhar e se divertir com a delícia que foi a criação do espetáculo! Bom passeio e boa arte a todos!




Esta é a foto de céu que nos inspirou na criação da luz da cena de amor entre os personagens Lulu e Ele, executados por Simone Bianchini e Thiago Oliveira.
A iluminação de Silvio Ramão, como sempre, nos deixou muito felizes! Tá lindona!



Este é o nosso cartaz de agradecimento a todas as pessoas maravilhosas que se engajaram no nosso projeto e sem as quais, com certeza, o espetáculo não seria o que é. Muito obrigada!


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Textos interessantes sobre artes cênicas (03)


Técnicas Corpóreas parte 03

Segue então a última parte do texto que estamos postando desde o dia 20, Técnicas Corpóreas.O texto é de Márcia Strazzacappa, atriz e pesquisadora que conhecemos no III Encontro MEME de Arte Experimental, deste ano. Poste seus comentários, envie e-mails para nós, vamos juntos começar a refletir as artes cênicas na contemporaneidade.
Vale lembrar que postamos o texto em três partes apenas para facilitar a vida, pois achamos melhor assim para o formato do blog. Se você tiver outra sugestão de formato, por favor, nos envie. E também que os textos colocados aqui serão sempre para fins de estímulo à reflexão, troca de ideias e fomento a questionamentos e problematizações relacionadas à criação e produção em Artes Cênicas.

Técnicas Corpóreas
à procura do outro que somos nós-mesmos, ou “à la recherche de nous-mêmes ailleurs”

Márcia Strazzacappa

(...)


A maçã nossa de cada dia

A pesquisa ora desenvolvida corresponde à continuação e aprofundamento do trabalho iniciado no mestrado, porém, sob um novo enfoque - o da etnocenologia, dada a sua abrangência. A etnocenologia é definida por Pradier (1995) como sendo “o estudo nas diferentes culturas das práticas e dos comportamentos humanos espetaculares organizados.[1] Diferentemente do que propõe a Antropologia Teatral - corrente criada e difundida pelo diretor italiano Eugenio Barba - a etnocenologia não se apresenta como uma linha estética. Seu fim não é a criação de espetáculos cênicos a partir do estudo e incorporação de diferentes técnicas corporais, mas o desenvolvimento de um estudo sistemático sobre as diferentes manifestações culturais, (folclóricas ou não) à partir da análise dos processos de criação e da elaboração de um inventário das práticas espetaculares de diferentes culturas.
Marcel Mauss[2] (1936), sociólogo francês e um dos primeiros a nomear e classificar as chamadas técnicas corporais, afirmava que há duas maneiras de adquirí-las: uma referente ao aprendizado da criança (inculturação) e outra do adulto (aculturação). Na primeira, o aprendizado se faz de uma maneira espontânea, direta e ‘quase natural’. A criança vê e reproduz; observa e assimila o observado através da repetição. Já na segunda, no indivíduo adulto, este aprendizado implica num confronto entre a sua técnica pessoal já assimilada e a aquisição de uma nova. Nossa maneira de andar, sentar, gesticular são igualmente técnicas corporais adquiridas, que estão diretamente relacionadas à cultura, ao meio onde se vive. Estas técnicas ditas ‘espontâneas’, uma vez que foram adquiridas enquanto crianças em fase de desenvolvimento, são, segundo Barba  ‘condicionamentos que nos aprisionam’[3], mas que segundo Lima, estes ‘mesmos condicionamentos que nos aprisionam são os mesmos condicionamentos que nos salvam, que permitem nossa sobrevivência no meio onde estamos inseridos’ [4]. Com tantas técnicas distintas desenvolvidas para tantos fins diversos, não haverá uma técnica única que sirva para todos os corpos e todos os fins. Portanto, não podemos falar na técnica (singular), mas nas técnicas (plural).
O artista cênico, enquanto indivíduo adulto, será sempre ‘estrangeiro’ diante do aprendizado de uma nova técnica ou mesmo junto a um novo professor de uma técnica já conhecida e incorporada, pois a aquisição de técnicas além de significar a incorporação de padrões de comportamento gestual, estético e cultural (aculturação), ela está também diretamente ligada à atuação do professor ou mestre. Martha Graham, dançarina norte-americana e uma das pioneiras da dança moderna na América, afirmava que nenhum de seus professores-assistentes tinha o direito de ensinar a ‘técnica Graham’. Esta só ela - Martha -  podia ensinar. O que eles lecionavam era uma técnica de dança moderna ‘based on Graham’s technique’. Assim, mesmo diante de uma aula padrão, o papel do professor será sempre fundamental. É ele quem criará a situação de confronto, de ‘técnica estrangeira’, ao imprimir-lhe características próprias, sua linguagem, sua maneira de pensar e transmitir o movimento.
Assim, podemos concluir que, à priori, o artista cênico, ao buscar técnicas corporais, sejam elas estrangeiras ou não, ele estará, na verdade, entrando em contato consigo próprio, com sua própria cultura, seus costumes, sua gestualidade, assim como, seus vícios corporais, pois é confrontando-se com o outro que encontramos a nós mesmos.
Mais do que simplesmente mexer com o corpo fisicamente, as técnicas mexem (ou devem mexer) com o indivíduo como um todo. O trabalho técnico corporal diário para o artista cênico não deve funcionar apenas como a manutenção da capacidade motora nem como a dose diária de estímulos sensoriais. Mais do que “o pão nosso de cada dia”, ele deve ser a “maçã nossa de cada dia”, que não apenas nutre o corpo, mas que é capaz de levantar questões, suscitar à reflexão e acima de tudo, levar o artista à expressão - sua busca infinita de respostas. 


[1] PRADIER, Jean Marie. Ethnoscénologie: la profondeur des émergences In La scène et la terre - questions d’ethnoscénologie, Internacionale de l’imaginaire. N. 5 Paris: Maison des cultures du Monde, 1996: p. 16.
[2] MAUSS, Marcel. “Les techniques du corps”. In Journal de Psychologie, XXXI., n° 3-4, 15 mars-15 avril 1936. Comunication présentée à la Société de Psychologie du 17 mai 1934. In: Sociologie et Anthropologie, Paris:PUF, 1966.
[3] Ver BARBA, Eugenio. Além das Ilhas Flutuantes. Campinas, São Paulo: Editoras Hucitec e Edunicamp, 1991.
[4] LIMA, José Antonio. “Movimento Corporal - a práxis da corporalidade”. Dissertação de Mestrado em Filosofia da Educação (inédita). Faculdade de Educação, UNICAMP, 1994.
  


Imagem do espetáculo Sem Açúcar, do grupo Neelic - cena criada a partir de trabalho com o corpo dos atores. Fotografia de Kiran Federico León.


terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Textos interessantes sobre artes cênicas (02)

Técnicas Corpóreas parte 02

Segue abaixo a segunda parte do texto que ontem postamos, Técnicas Corpóreas.A última postamos amanhã.

Técnicas Corpóreas
à procura do outro que somos nós-mesmos, ou “à la recherche de nous-mêmes ailleurs”

Márcia Strazzacappa

(...)


O artista cênico à procura de uma técnica

Definimos o artista cênico como sendo aquele cuja obra não é um objeto exterior a ele, mas está nele próprio. Em outras palavras é aquele que traz em seu próprio corpo o resultado de sua arte. A arte cênica, como sabemos, é uma arte efêmera. Sua efemeridade é caraterizada pelo fato do espetáculo - dentro da significação acima exposta - acontecer no momento da apresentação e desaparecer no instante seguinte. A percepção de que o corpo do artista cênico é ao mesmo tempo o agente e o produto de sua obra de arte conduziu à conscientização de que o desenvolvimento de um trabalho corporal interfere no resultado final da obra cênica, mesmo apoiando-se em outros recursos (instrumentos musicais, objetos cênicos, multimídia, etc.). Enquanto agente o corpo é técnica; enquanto produto, ele é arte.
Porém, se cada corpo é único, isto é, portador de características próprias e exclusivas, (história genética, evolutiva, cultural) e se cada técnica serve para um determinado fim (a técnica clássica para a dança clássica; a capoeira para a capoeira; o Odissi para o Odissi; o Kathakali para o Kathakali e assim por diante) qual será a técnica aplicável a essa pluralidade de corpos e que corresponda, ao mesmo tempo, às necessidades das artes cênicas?
No mestrado que foi desenvolvido junto ao Departamento de Metodologia do Ensino da Faculdade de Educação da UNICAMP, fizemos um levantamento das técnicas comumente oferecidas nos cursos de formação para atores e bailarinos. A partir desta constatação foi feito um segundo levantamento referente às facilidades e dificuldades mais freqüentes dos artistas em formação frente ao aprendizado corporal através da análise de cinco ateliers oferecidos por diretores estrangeiros durante os FIT [1] e em cursos extra-curriculares oferecidos no Departamento de Artes Cênicas da Unicamp no período de 91 a 93. A dissertação intitulada “O corpo em-cena” culminou no desenvolvimento e análise da aplicação de uma proposta de trabalho corporal para artistas cênicos.
No primeiro levantamento realizado, constatou-se que em sua grande maioria as técnicas abordadas eram técnicas estrangeiras. Em se tratando de um país tão rico em manifestações corporais, poder-se-ia pensar que a utilização destas fosse uma constante. A princípio considerou-se que a ausência de sua aplicação dava-se ao fato das manifestações corporais brasileiras estarem ainda em fase de estudo e sistematização. Excetuando a capoeira - considerada como uma ‘arte marcial brasileira’ que apresenta uma linguagem amplamente codificada e uma metodologia de aprendizagem própria - as demais técnicas corporais se apresentam ainda como objetos de estudos isolados. Quando ampliamos nosso campo de visão, observamos companhias cênicas e cursos de formação de atores e bailarinos de outros países com o mesmo tipo de atitude de ‘emprestar técnicas estrangeiras para a formação de seus artistas’. Seria esta atitude uma característica do comportamento humano? Da mesma forma que se presencia no Brasil atores aprendendo técnicas corporais orientais para representarem personagens de Nelson Rodrigues, por exemplo, depara-se com atores chineses estudando a lambada ou a capoeira. Mas, o que leva um artista brasileiro a estudar técnicas orientais? Qual a razão para um acrobata chinês estudar a lambada? A dança clássica? A capoeira? Qual a coerência destas posturas? O que há de comum nestes comportamentos? Assim, poderíamos resumir todas estas questões numa única interrogação, que será a questão mestra - nossa ‘maçã de Newton’ - do aprofundamento que ora propomos: Por que os artistas cênicos em geral buscam o aprendizado de técnicas corporais estrangeiras para o aprimoramento de sua arte?


[1] FIT - Festival Internacional de Teatro de Campinas, promovido pela Unicamp e Secretaria Municipal de Cultura de Campinas (1989, 1990, 1991 e 1992).


CONTINUA... 
 


Fotografia do espetáculo O Capote, de conclusão do nível avançado da escola de teatro do Neelic, que teve por base de criação elementos da Antropologia Teatral. Fotógrafo: Kiran Federico León.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Textos interessantes sobre artes cênicas (01)

Técnicas Corpóreas parte 01 

A partir de hoje colocaremos aqui uma série de textos interessantes sobre o trabalho em artes cênicas. Este primeiro, é da Márcia Strazzacappa,  cujo trabalho admiramos, e que conhecemos pessoalmente neste ano de 2010 em um encontro promovido pelo MEME, em uma situação muito agradével. Colocaremos ele aqui em três partes, a que segue abaixo é a primeira. A segunda postamos amanhã. Esperamos que possa ser válido para suas reflexões.


Técnicas Corpóreas
à procura do outro que somos nós-mesmos, ou “à la recherche de nous-mêmes ailleurs”

Márcia Strazzacappa


À sombra da macieira...
Todos sabemos que não foi a queda da maçã que permitiu a Newton o desenvolvimento de sua teoria sobre a gravidade. Várias maçãs já haviam caído antes, e seguramente centenas de outras continuaram (e continuarão) caindo sem despertar qualquer reflexão mais profunda a respeito das leis da física. O que foi importante para Newton naquele momento para que definisse as leis da mecânica não foi o fato da queda em si, mas a capacidade de, ao observar este fato, poder formular uma simples, porém precisa, questão: Por que os objetos (as maçãs) caem?
A história tem nos mostrado em inúmeros exemplos que todos os grandes pensadores de nossa época partem sempre de uma questão bem formulada. Longe de tentar me comparar a um grande pensador, mas no intuito de seguir um caminho ‘científico’, tentei identificar qual era a ‘questão’ que havia sido formulada e que me impulsionara ao desenvolvimento de minha pesquisa. Na minha vivência como dançarina, professora e pesquisadora do movimento corporal,  percebi que não havia apenas uma pergunta, e sim várias, porém todas girando em torno de um eixo comum: a técnica para o artista cênico, uma vez que não há arte sem técnica.
Arte e técnica são duas palavras que, embora de origens diferentes, tiveram durante muito tempo o mesmo significado. Técnica vem do grego tekhnê que quer dizer arte. A raiz de arte, por sua vez, é latina ars, que até o século XVII era utilizada no sentido de técnica. Mesmo diante da diversidade de significados que estas duas palavras foram adquirindo no processo contínuo de evolução da linguagem, a significação primeira que coloca arte e técnica como um mesmo corpo, ajuda-nos a compreender o sentido da  afirmação feita acima: não existe arte sem técnica.
A arte é o fim. A técnica será o meio de se chegar a este fim. Não basta a idéia ou a criatividade se não se tem meios e técnicas para sua realização. Da mesma forma como afirmamos que não existe arte sem técnica, podemos entender que toda técnica supõe uma arte e uma estética. Diferentes artes sugerem técnicas distintas. Assim como a evolução de técnicas pressupõe a evolução estética e vice-versa. Com o avanço da tecnologia, dos meios de comunicação, da cultura de massa, da internet, qual é a estética desta última década do milênio? Como ficam os espetáculos cênicos diante deste vendaval de informação e mídia? Qual a influência destes fatores sobre o fazer do artista cênico? Sobre a relação público - palco?
Se pegarmos como exemplo as últimas montagens dos grandes diretores de nossa década como Peter Brook, Pina Bausch, Ariane Mnouschkine, veremos a tendência generalizada à interculturalidade[1] e à plurilinguagem, como resultantes (ou agentes) desta evolução. A interculturalidade é evidenciada pela diversidade de nacionalidades dos artistas presentes num mesmo espetáculo. A tentativa de se ser fiel ao dramaturgo, tentando aproximar-se ao máximo os atores a seus personagens; a tendência de se padronizar físicos, esconder sotaques e regionalismos, diferenças de raça e idade, dão lugar a uma nova estética onde a fidelidade e semelhança não são mais valores, mas sim a mescla. São diferentes corpos, diferentes línguas, diferentes culturas dividindo o mesmo espaço cênico. Não bastasse a diversidade dos artistas em cena, temos a diversidade de  linguagens, ou plurilinguagem, onde recursos de diversas artes são colocados à disposição da obra cênica. Assim, já não se define mais até onde vai o teatro e a  partir de quando começa a coreografia; em que momento o bailarino toma o papel do músico; o instrumentista vira ator; e assim por diante. Não se fala mais em espetáculo teatral, musical ou coreográfico, mas em espetáculo cênico, ou simplesmente espetáculo.
Desta forma, não iremos abordar as especificidades do fazer cênico, isto é, não falaremos do ator, do bailarino, do mímico, do músico, mas do artista cênico em geral. Em inglês, a expressão performer é normalmente utilizada para designar o artista cênico, ou seja, aquele que realiza uma apresentação, uma performance. No Brasil, embora esta palavra tenha sido muito empregada, é freqüentemente entendida como ‘improvisação’ e conseqüentemente  performer como ‘aquele que realiza uma improvisação’, (excluindo aqueles que elaboram seu produto, o artista do palco). Na tradução do livro “A arte secreta do Ator - dicionário de antropologia teatral”[2] optou-se pela expressão ator-bailarino, para traduzir o termo performer, para se evitar assim esta dúbia interpretação. Embora este termo ator-bailarino tenha sido adotado pelo meio artístico brasileiro, ele continua sendo restritivo, pois acaba excluindo o músico, o cantor, o mímico, que são igualmente artistas da cena. Desta forma estaremos utilizando a expressão artista cênico por apresentar-se como a que melhor designa o nosso sujeito de estudo. 

[1] Termo utilizado por Pavis. Le théâtre au croisement des cultures, Paris: Corti, 1990.
[2], Barba, Eugenio e Nicola Savarese A Arte Secreta do Ator - dicionário de Antropologia Teatral” Trad. L. 0. Burnier e equipe. Campinas, São Paulo: Editoras Hucitec e Unicamp. 1995. 

(CONTINUA...)


Fotografia de Dramen des Alltags, espetáculo da linha de Pesquisa do Neelic que tem o corpo do ator como ênfase do trabalho. Fotógrafo: Kiran Federico León.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Inauguração do novo blog do Neelic

Sejam todos bem-vindos ao novo blog do grupo teatral Neelic. Neste momento, estamos dando início às postagens, então, para começar, fica aqui uma foto de Kiran, nosso fotógrafo oficial. É do nosso espetáculo Primeiro Amor, sobre o qual postaremos diversos conteúdos nos próximos dias.
Os atores na foto são Simone Bianchini e Thiago Oliveira.